"O Amor por nossos pais não conhece limites"

Somos concebidos, gerados e cuidados por nossos pais, e desde sempre, nos vinculamos a eles com total amor e fidelidade. Por vezes, no nosso crescimento, nos desprendemos destes sentimentos na superfície, com rompantes de raiva e acusações, mas por dentro somos influenciados e submetidos por esse amor ao campo familiar. Esta dualidade, que vem da incompreensão do nosso verdadeiro afeto e de nossas dificuldades, é a causa de muitos dos problemas sistêmicos que enfrentamos em nossa vida.

Viemos a este mundo pelas portas da infância, e como crianças, aprendemos a amar. Amamos nossos pais, nossos irmãos, reconhecemos todos aqueles que pertencem ao nosso sistema. Primos, tios, avós. Sabemos claramente onde é o nosso lugar, e choramos, angustiados, quando percebemos que não estamos com aqueles que nos protegem, nos amam e nos cuidam.

Na experiência da criança, tudo é intenso. Crianças amam sem limites, na sua mais pura capacidade. Se sentem completas quando recebem o afeto que procuram. Na mesma medida, sofrem intensamente quando imaginam que por algum motivo, não estão recebendo o afeto e a atenção que mereceriam.

Aos pais, cabe a conversa que auxilia a criança a amadurecer, a “ver” e sentir seus sentimentos dentro da realidade.
Eles ajudam a decodificar simbolismos dos relacionamentos que as crianças ainda não estão prontas a traduzir sozinhas, e aos poucos, caminhar para a vida jovem e posteriormente para a vida adulta.

Muitos de nós fazemos esse caminho de forma incerta, amadurecendo em alguns pontos mas ainda “carregando” algumas crianças para sua vida adulta.
Essas crianças, que estão dentro de nós e que não amadurecem, por qualquer razão que seja, continuam amando à beira do precipício. São essas crianças internas, que querem ajuda para amadurecer, que nos trazem dificuldades na vida adulta.

"O Amor por nosso sistema familiar"

Então, se carregamos algumas crianças internas, muitas vezes assumimos posturas infantis, sem conexão com a realidade. É possível que nossa criança se veja como o herói salvador, como conciliador dos pais, como a cura para o luto dos avós pela perda de um filho, ou até mesmo ligado a histórias mais difíceis do passado do sistema familiar.

Nossa criança, tão pequena, carrega o nosso corpo de adulto para dentro das histórias difíceis da nossa família, desesperadamente buscando soluções para que o equilíbrio volte a reinar.
Nesse caminho, de ajudar os outros, “por amor”, nos esquecemos de nós e da nossa responsabilidade com a nossa vida e com o que nos pertence. Nossa criança quer primeiro garantir a felicidade dos pais à sua própria sobrevivência. Nossa criança não reconhece os limites entre os indivíduos. “Se meus pais estão infelizes, eu estou infeliz, afinal, eu sou meus pais“.

E na medida em que compra batalhas que não pode vencer, esquece das lutas que obrigatoriamente precisa lutar. Nossa criança se entrosa nos problemas dos pais, dos irmãos, dos tios, de antepassados, mas não se envolve com seus próprios problemas. E quando se dá conta, culpa a todos por sua distração.
Mas há uma boa notícia: essa criança quer crescer e se desenvolver.

"O Amor se transforma"

Andamos com nossa criança pra cima e pra baixo. Ela está lá, esperando a nossa mão estendida convidando para o amadurecimento. Olhamos pra ela com carinho, percebendo o quanto do amor que ela guarda dentro de si, especialmente em relação aos pais. Reconhecemos o amor que por vezes a faz adoecer, por não saber como direcionar de forma mais produtiva o que está dentro de si.

Então convidamos a criança a olhar os pais de seu lugar correto. Levamo-la ao chão, com os joelhos dobrados e olhando pra cima. Vemos os pais grandes, robustos, imponentes. E a criança aprende que aquele lugar é muito bom, muito confortável, e que seu amor está seguro ali. Ela olha por instantes, os traz para dentro do seu coração e percebe que dali eles não vão para lugar nenhum, estarão sempre presentes, juntos. Não há mais medo de perdê-los, seria impossível.
E assim a criança, já um pouco mais madura, percebe que há outros lugares para se olhar. Há vida acontecendo a sua volta. Seu horizonte se amplia.

Não está acostumada com a liberdade do olhar, as vezes checa novamente o coração pra ver se está todo mundo ali, e então segue viagem. Crescendo, aprendendo, amando, do seu lugar. Não é mais necessário ser herói, consegue ver claramente o que é seu e o que é do outro. E por respeito, não invade mais o lugar de ninguém.

Como uma pessoa adulta, honra seus pais, garantido que a vida que chegou até a si não seja em vão. Se antes amava como uma criança, hoje só retorna esse papel quando volta à casa dos pais e pede um colo, que eles alegremente concedem. Mas ainda assim, o amor evoluiu, e agora ele observa o todo. Amadurecido, esse adulto agora vê que tomar partido é desnecessário. Não há inocentes ou culpados.

O que existe é a vida que corre, com suas mais variadas solicitações. Julgamo-las boas ou más, mas uma breve análise faz perceber que o julgamento de valor não faz parte dos planos da vida. Não é algo intrínseco de nossas ações. Ela muda conforme o tempo, os valores sociais, as situações.

Novamente, aceitamos o que é nosso. Aos pais cabe serem pais. Aos filhos cabe serem filhos. Nos recolhemos a nós mesmo e nos responsabilizamos por nossa vida. Saímos do colo dos nossos pais (esse poderoso fortificador) e os guardamos novamente no coração. A porta da casa está aberta e nos convida a uma viagem mundo afora, e nós, como bons adultos, aceitamos o passeio.


Texto retirado do site: http://www.iperoxo.com

Contribuição: Adriana Maria Souza Sandes
Professora de Ações Inclusivas
Colégio São Francisco de Assis

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